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Sunny Day, Rainy Day

illustrations Jan Limpens
Does the word friendship mean liking exactly the same things? Sunny day, Rainy day is the tale of two very different kids who find a heartspace to meet and share!
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O Músico

original work in english Heloisa Prieto
translation to Portuguese Victor Scatolin
Para maiores informações: themusician.info

trecho inédito



  1. O mundo é habitado por todos os tipos de criaturas.
  2. Certas criaturas são estranhas, outras não.
  3. Certas criaturas estranhas são reais, outras não.
  4. Para ver o mundo como ele realmente é, deixe de lado palavras como "estranho, real ou imaginário".

Do diário de Thomaz, na primeira página

Segredo sonoro


Thomaz estava à beira de uma síndrome de pânico. Tudo parecia completamente fora do controle. Como assim? Por quê? Ele respirava lentamente, sua mente tentava encontrar o momento exato em que as coisas tinham dado errado.

Antes de sair de casa, ele havia colocado cuidadosamente todos os seus papéis em malas separadas. Ele sabia que alguma coisa estava fora da ordem natural no momento em que acordou e percebeu que um belo sonho se apagara de sua mente. Não era um bom sinal perder os bons sons.

Ele olhou o espaço ao redor. Thomaz não gostava de ter seu espaço estuchado de sofás e mesas. Os convidados eram raros e sempre diziam que ele era um minimalista, talvez para não lhe dizerem que o achavam um cara incomum. Livros e cadernos cuidadosamente empilhados espalhavam-se por toda parte, parecendo pequenos edifícios coloridos. Mesas baixas, de madeira, eram também cobertas por livros, exceto uma, que Thomaz usava para comer. Quase nenhuma cadeira, já que ele gostava de ler, brincar e comer de pernas cruzadas no chão lustrado, coberto por tapetes asiáticos. Numerosos instrumentos musicais viviam recostados nas paredes brancas, como se fossem árvores de uma bela floresta musical.

Thomaz mantinha suas malas perto da porta como se estivesse sempre prestes a viajar. A mala marrom, a maior delas, mantinha seus diários, a mala preta os documentos, a vermelha era para todas as agendas, as velhas e as novas; a mala verde cheia de listas de tantas coisas por vir e finalmente, a mala cinza, repleta de quadros, restos de ideias, sonhos confusos e visionários. A mala menor, na verdade uma mala de mão, guardava esboços, fotos da sua infância, e também suas fotos de céus, montanhas, , luas, lagos, estrelas e do mar...
Thomaz tocou lentamente todas elas e, de alguma forma, sentiu-se aliviado. Tudo parecia estar sob controle. Olhou de relance pro celular. Tinha muito tempo para tomar uma xícara de café. Thomaz olhou mais uma vez para suas malas antes de ir para a cozinha. As malas estavam todas quietas. Nenhuma criatura tentava fugir de suas páginas. Ele respirou fundo. Desde que era só um garotinho já tinha visto e ouvido seres musicais. Primeiro sentiu a presença deles como som e sombras, enquanto ainda era um bebê no berço. Sombras sonoras comoventes, tão amigáveis e belas que ele podia passar horas apenas vendo-as dançando descalças a sua volta. Levaria anos para ele perceber que outras crianças, muito menos adultos, não conseguissem ver ou ouvir seus doces amigos melódicos.

– Meu filho ama seus amigos invisíveis – dizia sua mãe a seus professores que o tinham como um cara doidão.

– Muitas crianças têm amigos invisíveis, isso é bem comum – sua mãe insistia.

Era inútil. Os professores nunca o trataram como às outras crianças. Pelo menos era assim que ele se sentia.

O celular tocou; era uma mensagem de voz de sua mãe. Ele sorriu. Ela parecia adivinhar seus pensamentos, às vezes. Thomaz deixou suas memórias de lado e olhou para fora da janela. Estava um dia tão lindo. Ele vestiu o casaco e o chapéu, pretos, cobrindo seus longos cabelos negros. Olhou de relance para o espelho e sorriu. Eles estavam sempre com ele. Criaturas musicais. As secretas criaturas de som. Num relance, ele viu vários seres sorrindo de volta para ele. Eles dançavam dentro e fora do espelho tão rápido, que ele dificilmente conseguia seguir seus pequenos e precisos movimentos. Era um dia de viradas. Ele assim sentia. Uma vida inteira passada em companhia da música certamente havia ampliado sua cabeça e seu coração. No entanto, ele não tinha ainda desenvolvido inteiramente seus próprios olhos musicais. Ele conseguia sentir muitas coisas, até mesmo o futuro, mas não prevê-lo. Os olhos devem ver, não ouvir. O que pode ocorrer quando os olhos ouvem?

Thomaz levou um tempo para decidir qual violão ele tocaria naquele domingo. Cada instrumento guardava seus próprios segredos. Além disso, ele não tinha certeza se deveria tocar, escrever ou desenhar. Tudo o que ele queria fazer era sentar-se em um banco perto da fonte e que o sol de seus raios acariciasse seu rosto. E ver suas criaturas musicais se lavando em águas límpidas. Sentir o barato de ser ser humano, desfrutar do poder de ser ele mesmo.

No entanto, olhou pela janela e viu o ponto de táxi lá fora. Ele olhou pro lado e percebeu que havia deixado sua viola espanhola encostada na parede. Já é. Ela seria sua companheira aquele dia. Thomaz pegou a grande case preta, depois pôs seu violão nas costas e adentrou o táxi.

Hora do almoço. Thomaz adorava observar as pessoas sentadas em refeições familiares, conversando, fazendo uma pausa do trabalho para compartilhar as notícias diárias. Qual seria a sensação de ter uma vida pacata e previsível? Thomaz tinha certeza de que nunca seria capaz de descobrir. De certa forma, ele ansiava ser como qualquer outra pessoa, vivendo apenas 24 horas por dia. Ao mesmo tempo, sua curiosidade por novos lugares e terras o mantinha incansavelmente na estrada. Tinha quase certeza que sua vida era trilhar o caminho dos músicos nômades. Cada vez que atravessava fronteiras, sentia como se quisesse entrar em uma terra atemporal. Um lugar pacífico, sem fronteiras, sem começos, sem meios, sem fins. A vida como ela é.

Para maiores informações: themusician.info

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The Musician

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THE TALE TRACKERS: A SIMPLE TWIST OF FATE

original work in english Heloisa Prieto e Victor Scatolin
illustrations Daniel Bu Eno

excerpt from the book

“Every poem is a letter.

Every poem holds a tale…”

These thoughts crossed Caique´s mind as he whistled while walking down the street.

“I don´t mean a regular, beginning, middle and end tale” he thought to himself.

Poems hold on to something else.

As a fragment of one´s own life story. Let´s say, for instance, the day he sat at the bench, at the square, next to Mr. Angelo, the best guitar player in the world, at least the best one he had ever met. Or still, as the new poem that just now drew itself in his imagination, as he tried to reach back to the moment he found out about the powerful combination of words and music. Thinking about music he raised his eyes up to the sky looking for birds. To think that birds can fly far away as words in the wind. Listening to birds singing he realized their voices could be so diverse as people´s speech. Clouds… Poems can just pop up in one´s mind. The true secret is to know how to hold on to them.

Caique ran until he reached the square.

He chose the empty bench, under an old, familiar, welcoming tree. He took his notebook out of his backpack. He opened the white, empty page. He looked at the sky and drew a poem…

He smiled feeling good about himself.

He sighed.

He stood up and took his way to school. As he walked through the square, he thought about all the good things that had happened last year.

At school he was now seen as someone who had made a dream come true. His friends and teachers called him The Poet. It made him feel shy sometimes and he told them:

“How can I be a poet if I can't even rhyme?”

Caique saw poetry as something that just sprouted out of his mind, opening up his eyes to see things around him as if they were brand new…

Nothing ever bored him, because according to his own, particular way of seeing life, there was no such a thing as boredom. What would be the opposite of being bored? Being cool? What´s the difference between one and the other? Being cool and being boring were just about the same, so he thought.

Caique´s poetry was not only about beautiful things, such as the flight of birds, or even their beautiful songs. If there was one thing he could do quite well was to make a poem out of joke, a poem out of a drawing, or still a very sad poem just to make someone cry and smile at the same time. Empty poems also pleased him. Silent ones too.

Poems were everywhere to be seen.

Whenever Caique recited a poem, everyone stopped to listen to him. But there were always the ones who liked to make fun out of him. People who kept on telling him poetry is just useless at the end of the day.

Caique liked to reply:

Is our life useful after all?

What are we here for anyhow?

One day he just thought to himself:

Every living being is a poem, every poem is a living being.

imagem do da capa do livro
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The Adventures of a Dog Named Petit

Editora FTD
written by Heloisa Prieto
illustrated by Maria Eugenia
afterword by Raissa Pala Veras

excerpt from the book

The day my sister was born I felt deeply jealous of her.

She was my own doll. Nobody else could play with her. Whenever guests came to the house to see her, I found a way to distract them by acting strange, so they would not get too close to her.

“Olivia! What are you doing, my child? Why do you want to call everybody's attention like that?”

I did not want people to pay attention to me. I just did not like people to keep on holding my dear Alice. I had never imagined that a baby sister coming out from the hospital could be so pretty: her round little forehead, curly, thin hair, her tiny little hand that kept on holding my fingers to play with them.

“Alice is my sister!” I kept on telling everyone. “And she is going to sleep in my room when she grows older. Both of us are going to play, to take baths, to travel, go to school, to do everything together…”

My mother did not know how to handle me. Several months went by. Alice became prettier and my jealousy grew stronger. This is when Dad come up with an idea:

“I think I know the perfect antidote for Olivia´s jealousy! It is so very simple! She needs to have her own baby, someone else to love…”

“Oh, no, George!” Mom said “It’s definitely too early for us to have another baby!”

“A baby?” asked Dad and then just kept quiet.

I could not sleep, I was so curious about Dad. What was he scheming? Next morning, at breakfast, he told all of us:



“Tomorrow it will be dog´s day… We will take you, girls, to the dog shelter for you to adopt a puppy. And Olivia will take on full responsibility for this new baby, right, my beautiful child?” Another sleepless night.

I was so happy I could not close my eyes! I had always dreamt about having a dog and Dad had just guessed my strongest wish…

As we arrived at the shelter, Mom came out of the car first, holding Alice. I could not have guessed that a little baby like her would be so happy in this place so crowded with dogs. She would not stop laughing. She clapped her hands. She even made happy baby sounds. So we saw dogs from all sizes, colours, shapes and ages… How could we decide which one to choose?

imagem do livro mostrando Olívia e sua irmã no colo
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